Há qualquer coisas nos meus monólogos com as paredes que me deixa intrigada. Não sei se é porque não escuto nada se não o eco da minha voz e nada vejo se não a paciência admirável das paredes que continuam estáticas e alegremente surdas ás retóricas lançadas.
Quantas vezes já fui também parede, lançaram sobre mim magoas e tristezas, confessaram-me segredos, atiraram-me copos de vinho barato, deram-me cabeçadas.. vi guerras serem erguidas, observei o amor a crescer em barrigas felizes, suportei os risos histéricos, o bafo de dormência e incapacidade de seguir em frente de muitos outros.. a diferença é que não sou uma parede, na medida, em que não me porto com a mesma discrição, não gero a mesma empatia pelo efeito de surdez, e talvez tenha sido por isso que alguém lá de cima quis-me humana e não parede, não pondo em medidas nem julgamentos se me saiu melhor numa tarefa do que noutra.
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