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quarta-feira, 19 de setembro de 2012

A estória do Lobo Mau: as vacas gordas morreram.

 
 
- A fome é o melhor tempero. - disse a cozinheira, do alto daquilo que foram, num passado não muito distante, as evidenciadas curvas de um reinado da sua camada adiposa, resgatada por entre colheradas em tachos cheios na cozinha.
Lá ficou ela, encostada á bancada que agora está tão limpa e que de tão limpa que está dá vontade de nem incomodar com as moelas para os petiscos e os molhos para as bifanas. O avental, nota-se perfeitamente desajustado ás suas novas medidas, mas não lhe importa, porque simboliza aquilo que qualquer português ainda gosta de ter pregado nas paredes lá das suas casas: o tempo das vacas gordas. E hoje em dia, pode não se ter nada de jeito nos bolsos, mas como a cozinheira gosta de pensar, é preferível ter-se aventais com bolsos onde se esconder os punhos, para não se revelar o aborrecimento de nada ter para suar, do que despedir o dito avental e perder-se por entre a multidão com o título honorífico de desempregado.
Cá fora, ficam os outros, a caminho de casa, com o saco das carcaças que o papo-vai-seco por uns minutos de sofá e uma cevada fresca enquanto o calor insiste em permanecer espalhado pelas ruas neste mês de Setembro.
As moscas, essas tomaram conta dos apliques da sala, são as que ainda desfilam por aqui como habitués e o seu voo acrobático entretém a cozinheira que espera as 15h no relógio de pulso, para ir lá fora fumar um cigarro. Alimentar a alma de vicíos é o que ainda nos mantêm sóbrios de humanidade, para não virarmos animais que com a fome dão lugar aos instintos.
 Porque a fome é o melhor tempero, de uma guerra, que alguns andam por aí a comprar.

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