Lá ficou ela, encostada á bancada que agora está tão limpa e que de tão limpa que está dá vontade de nem incomodar com as moelas para os petiscos e os molhos para as bifanas. O avental, nota-se perfeitamente desajustado ás suas novas medidas, mas não lhe importa, porque simboliza aquilo que qualquer português ainda gosta de ter pregado nas paredes lá das suas casas: o tempo das vacas gordas. E hoje em dia, pode não se ter nada de jeito nos bolsos, mas como a cozinheira gosta de pensar, é preferível ter-se aventais com bolsos onde se esconder os punhos, para não se revelar o aborrecimento de nada ter para suar, do que despedir o dito avental e perder-se por entre a multidão com o título honorífico de desempregado.
Cá fora, ficam os outros, a caminho de casa, com o saco das carcaças que o papo-vai-seco por uns minutos de sofá e uma cevada fresca enquanto o calor insiste em permanecer espalhado pelas ruas neste mês de Setembro.
As moscas, essas tomaram conta dos apliques da sala, são as que ainda desfilam por aqui como habitués e o seu voo acrobático entretém a cozinheira que espera as 15h no relógio de pulso, para ir lá fora fumar um cigarro. Alimentar a alma de vicíos é o que ainda nos mantêm sóbrios de humanidade, para não virarmos animais que com a fome dão lugar aos instintos.
Porque a fome é o melhor tempero, de uma guerra, que alguns andam por aí a comprar.
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