Há qualquer coisas nos meus monólogos com as paredes que me deixa intrigada. Não sei se é porque não escuto nada se não o eco da minha voz e nada vejo se não a paciência admirável das paredes que continuam estáticas e alegremente surdas ás retóricas lançadas.
Quantas vezes já fui também parede, lançaram sobre mim magoas e tristezas, confessaram-me segredos, atiraram-me copos de vinho barato, deram-me cabeçadas.. vi guerras serem erguidas, observei o amor a crescer em barrigas felizes, suportei os risos histéricos, o bafo de dormência e incapacidade de seguir em frente de muitos outros.. a diferença é que não sou uma parede, na medida, em que não me porto com a mesma discrição, não gero a mesma empatia pelo efeito de surdez, e talvez tenha sido por isso que alguém lá de cima quis-me humana e não parede, não pondo em medidas nem julgamentos se me saiu melhor numa tarefa do que noutra.
amigos que passam por aqui!
sexta-feira, 21 de setembro de 2012
quarta-feira, 19 de setembro de 2012
A estória do Lobo Mau: as vacas gordas morreram.
Lá ficou ela, encostada á bancada que agora está tão limpa e que de tão limpa que está dá vontade de nem incomodar com as moelas para os petiscos e os molhos para as bifanas. O avental, nota-se perfeitamente desajustado ás suas novas medidas, mas não lhe importa, porque simboliza aquilo que qualquer português ainda gosta de ter pregado nas paredes lá das suas casas: o tempo das vacas gordas. E hoje em dia, pode não se ter nada de jeito nos bolsos, mas como a cozinheira gosta de pensar, é preferível ter-se aventais com bolsos onde se esconder os punhos, para não se revelar o aborrecimento de nada ter para suar, do que despedir o dito avental e perder-se por entre a multidão com o título honorífico de desempregado.
Cá fora, ficam os outros, a caminho de casa, com o saco das carcaças que o papo-vai-seco por uns minutos de sofá e uma cevada fresca enquanto o calor insiste em permanecer espalhado pelas ruas neste mês de Setembro.
As moscas, essas tomaram conta dos apliques da sala, são as que ainda desfilam por aqui como habitués e o seu voo acrobático entretém a cozinheira que espera as 15h no relógio de pulso, para ir lá fora fumar um cigarro. Alimentar a alma de vicíos é o que ainda nos mantêm sóbrios de humanidade, para não virarmos animais que com a fome dão lugar aos instintos.
Porque a fome é o melhor tempero, de uma guerra, que alguns andam por aí a comprar.
As constatações da Pessoa: o Zé, do povinho, merece respeitinho!
Riem-se os meus pés, de tanto esmagarem o chão com a solicitude de quem voa alto para anunciar a chegada de notícias cobradoras de identificação alheia.
É para eles! Não escrevo mais para os brandos, escrevo linhas que solto por ai como rasto para fervilhar em bancadas onde se sentam esses miseráveis de ínfimos e vil costume de nos fazer pagar a conta de um conjunto de acontecimentos que influem de um modo inelutável sobre algo que nos atinge directamente onde mais dói: os intestinos. Que de tanta fome que têm passado começam a resmungar em sólidas e amargas canções de despedimento colectivo de um povo á beira do esgotamento psicótico capaz de atrocidades barbaras sobre as intempéries colocadas por esses arrogantes malfadados que um dia, para breve, não sabem o que lhes irá acontecer de tão rigorosos pulsos que hoje batem apenas sobre a mesa de jantar para não se ouvir o roncar da fome e o seu eco nas paredes vazias das casas que habitamos.
Não se cansam as gargantas de suar em vaporizações constantes de cânticos patrióticos, como quem têm um corpo doente á espera de uma cura qualquer vinda de alguém que deveria no seu dever guardar-nos de enfermidades, mas eu não espero mais por supostos merdas de bolsos cheios e cartolas nas cabeças, vazias de Humanidade, eu vou além das gargantas e quero acertar-vos em cheio com o vômito de quem têm a Alma doente de tanta inércia e corrupção que me tenta esmagar o corpo contra uma parede num duelo que força á aceitação das vossas premissas. Nunca! Jamais! Podem comer-me até ás veias, ficar-me com o cérebro que rejubila contra as vossas anedotas, mas as minhas linhas essas vocês nunca serão capazes de fazer-lhes frente, porque em todas elas há um português que para além de o ser e de ter um nome, também têm uma Alma que um dia vos vai regurgitar em cima quando se aperceber que estas linhas também lhe pertence e que a solução passa por vos deixar atolados de medo em piscinas olímpicas de respeitinho pelo zé povinho.
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